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Wednesday, March 20, 2013

O Papa é uma "preocupação".


Bruno Braga.



“Habemus Papam!” Bastou o cardeal francês Jean Louis-Tauran anunciar o argentino Jorge Mario Bergoglio como Sumo Pontífice para que, no instante seguinte, o Papa - agora “Francisco” – fosse acusado de colaborar com o Regime Militar em seu país.

Os militares assumiram o poder na Argentina em 1976. Na ocasião, Bergoglio era Prepósito Povincial da “Companhia de Jesus”, superior da ordem jesuíta. Os detratores o acusam de – desta posição privilegiada – ser “conivente”, e até de “colaborar”, com a prisão de dois sacerdotes, Franz Jalics e Orlando Yori.

Bergoglio combateu a “politização” da “Companhia de Jesus”, em um esforço de protegê-la da Teologia “Comunista” da Libertação. Ele pretendia que os sacerdotes se dedicassem à vocação – ao trabalho em suas paróquias -, e não à revolução [1]. Este posicionamento, contudo, não compromete Bergoglio com a política de Estado vigente, e nem com os eventuais crimes cometidos por seus agentes.

Sobre a acusação contra Bergoglio, Orlando Yori não pode mais dar o seu testemunho: ele faleceu em 2000. No entanto, Jalics está vivo - em um mosteiro na Alemanha. Ele divulgou uma nota na qual defende o Papa: “Anos depois tive a oportunidade de conversar com o padre Bergoglio sobre o acontecido. Depois disso celebramos uma missa juntos, em público, e nos abraçamos solenemente. Estou reconciliado com os eventos e considero o assunto encerrado” [2].

A respeito das denuncias de que Bergoglio era cúmplice do Regime Militar, o argentino Adolfo Pérez Esquivel – Prêmio Nobel da Paz, em 1980 – desmente as acusações: “havia bispos que eram cúmplices da ditadura, mas Bergoglio não” [...] [ele] “não tinha vínculo com a ditadura” [3].

Graciela Fernández Meijide, que foi integrante da Comissão Nacional sobre o Desaparecimento de Pessoas (Conadep), criada pelo governo Raúl Alfonsín em 1983, asseverou que o nome de Bergoglio jamais foi mencionado durante as investigações [4].    

Nem mesmo o jornalista Flávio Tavares – que através de atentados, sequestros e assaltos pretendia fazer do Brasil um país Socialista-Comunista [5] – corrobora as acusações feitas contra o Papa. Em 1998, Flávio Tavares conheceu o então arcebisbo Bergoglio: “a humildade no ouvir e a fala mansa ocultavam o homem corajoso e decidido, que protegera perseguidos da ditadura quando sacerdote nos anos 1970”. O jornalista morou em Buenos Aires nos anos iniciais do Regime Militar (1976-77): “Bergoglio, então reitor do seminário, ajudou dezenas de perseguidos e salvou da morte dois sacerdotes tidos pelos militares como ‘subversivos’ pelos trabalhos de catequese operária” [6].   

Alicia Oliveira – advogada, que foi secretária de Direitos Humanos da “Cancilleria” argentina durante o mandato de Néstor Kirchner – exime Bergoglio de qualquer responsabilidade sobre a prisão dos sacerdotes jesuítas [7]. E sobre a atuação do Provincial superior durante o governo militar, Alicia revela: “lembro-me muito bem do caso de um jovem muito parecido com ele, a quem o novo Papa lhe entregou o seu próprio documento de identidade para que pudesse fugir” [...] “tenho plena convicção sobre a honestidade de Bergoglio, não posso dizer a mesma coisa das pessoas que o acusam injustamente” [8].

De fato, o principal acusador de Bergoglio é Horacio Verbitsky. Ele é um ex-integrante do grupo revolucionário Comunista guerrilheiro-terrorista “Montoneros”. Verbitsky promovia assaltos, atentados a bomba, sequestros – ele foi o responsável por enviar $60 milhões de dólares para Cuba, uma fortuna obtida com o pagamento do resgate de Juan e Jorge Born, em 1974.

Em um depoimento judicial – em 2003 -, o Coronel Horacio Losito revelou as atividades criminosas do grupo “Montoneros” e do próprio Verbitsky [9]:

Sobre Verbitsky, Cf. (a) 07:31, atentados terroristas; (b) 09:19, sequestro dos irmãos Born.

Verbitsky, hoje, é apresentado como “jornalista”. No entanto, ele é um “agente político” de Cristina Kirchner. Verbitsky é uma espécie de “ideólogo” – um “Intelectual” - do Kirchnerismo. Exerce forte influência nas decisões do governo argentino, e é conhecido como “Consejero” da Presidente – é “el hombre del crépusculo”, por conta de suas reuniões com ela ao entardecer.

Quando Bergoglio se tornou Papa – “Francisco” -, o mundo soube das relações tensas e conflituosas entre ele e a Presidente da Argentina, Cristina Kirchner. Bergoglio acusou o populismo do governo, mas o enfrentou, sobretudo, por causa da aprovação da lei que instituiu o casamento gay, em 2010.  

Um Papa tem uma importância espiritual – religiosa, para os fiéis da Igreja Católica. No entanto, ele também tem uma representatividade político-social. Sob esta perspectiva, as acusações infundadas contra o Papa Francisco – conduzidas, principalmente, por um agente do kirchnerismo – adquirem significado. Mas, não apenas dentro de um contexto local, o da Argentina. Francisco é um Papa latino-americano – e em um continente dominado pelos revolucionários Socialistas-Comunistas, ele se torna uma ameaça para todos eles.

O jornalista Kennedy Alencar – que tem trânsito dentro do PT, pois foi assessor de imprensa de Lula – afirma que o “Palácio do Planalto respirou aliviado com a escolha de um Papa argentino”. Porque, fosse escolhido Dom Odilo Scherer, o “Governo Dilma” teria que enfrentar uma “voz forte e conservadora para opinar sobre a política brasileira”. Nas eleições de 2010, “Dilma e o PT” tiveram atritos com a Igreja Católica por causa do aborto. Portanto, conclui o jornalista, “um Papa brasileiro seria fonte certa de conflito”.



Porém, Cristina Kirchner defende praticamente as mesmas “bandeiras” que Dilma Rousseff. Aliás, elas são aliadas, compõem o grupo que governa a América Latina. Por isso, “Francisco” não é uma “preocupação” apenas para a Presidente da Argentina, mas para todos os governos revolucionários Socialistas-Comunistas do Continente, que têm uma “agenda” incompatível com os princípios do Papa, com os da Igreja Católica. As acusações – as denúncias rasteiras – contra Francisco têm um propósito: proteger um ambicioso e funesto projeto de poder, que tem dimensões continentais. Porque Bergoglio pode ter – para a América Latina – o mesmo significado que Wojtyla para a Polônia e para o Leste Europeu [10].
  

Notas.

[1]. BRAGA, Bruno. “Francisco” [http://b-braga.blogspot.com.br/2013/03/francisco.html].

[2]. Clarin. Suplemento Especial, “El Papa del fin del mundo”, 17 de Março de 2013, p. 20 [http://contenidos2.clarin.com/edicion-electronica/20130317/index.html#/20/zoomed].

[3]. Clarin, “Pérez Esquivel: Bergoglio no tenia vínculo con la dictadura”, 14 de Março de 2013 [http://www.clarin.com/mundo/Perez-Esquivel-Bergoglio-vinculo-dictadura_0_882511909.html].

[4]. O Globo, “Visões opostas sobre o papel na ditadura”, 15 de Março de 2013 [http://oglobo.globo.com/mundo/visoes-opostas-sobre-papel-na-ditadura-7846164].

[5]. BRAGA, Bruno. “Surto infausto” [http://b-braga.blogspot.com.br/2012/01/surto-infausto.html].

[6]. Flávio Tavares, “Abençoado seja! O abençoado”, 17 de Março de 2013 [http://wp.clicrbs.com.br/opiniaozh/2013/03/17/artigo-abencoado-seja-o-abencoado/?topo=13,1,1,,,13].

[7]. Clarin, “Cuando la dictadura me echó, él estuvo permanentemente conmigo”, 14 de Março de 2013 [http://www.clarin.com/mundo/dictadura-echo-permanentemente-conmigo_0_882511915.html].

[8]. Cf. Nota [4].

[9]. O depoimento do Coronel Horacio Losito é um documento valioso. Não apenas para esclarecer o contexto político e social da Argentina durante o Regime Militar. Ele é um alerta para os militares brasileiros. O Coronel Losito foi processado e condenado por “violação dos direitos humanos”. Ele foi julgado por um tribunal “revisionista”, forjado para transformar a versão revolucionária na História oficial de um país. Este é exatamente o propósito da “Comissão da Verdade” – quer dizer, da mentira – no Brasil. Cf. BRAGA, Bruno. “Inspirando-se nos ‘hermanos’” [http://b-braga.blogspot.com.br/2012/04/inspirando-se-nos-hermanos.html].

[10]. BRAGA, Bruno. “Francisco” [http://b-braga.blogspot.com.br/2013/03/francisco.html].



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