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Thursday, November 29, 2012

A delinquência sob o véu do heroísmo.



Bruno Braga.


O julgamento do mensalão desfiou parte do tecido que há décadas recobre a história do Brasil. Um véu artificiosamente costurado para elevar as personalidades mais obscuras à condição de protagonistas do processo. José Dirceu e José Genoino, os “heróis” que outrora – esta é a história que se aprende nos bancos das escolas e das Universidades – “lutaram pela democracia”, agora sentenciados pelo Supremo Tribunal Federal como os “delinquentes” que a fraudaram.

Advogados de renome - pagos a peso de ouro – cuidaram da defesa dos “heróis” no Tribunal. Fora dele foram os correligionários e aliados. A intelectualidade “progressista”, os sacerdotes da revolução, os simpatizantes – e os “idiotas úteis”. Eles reclamaram da ausência de provas para fundamentar as condenações. Denunciaram um julgamento de “exceção” e “político”.

Porém, basta assistir às sessões do STF – disponíveis na internet para qualquer interessado – para reconhecer a transparência do processo e a abundância de provas para condenar os acusados. Bastaria assisti-las para concordar com o Ministro Celso de Mello: os condenados são de fato “marginais do poder”.

A “delinquência” dos réus não foi uma distorção injusta promovida pelos Magistrados. Dizer que ela é um produto do exercício do poder - atividade que lançaria no pecado os próceres da liberdade – seria exagerar a especulação. No entanto, não é demais verificar se José Dirceu e José Genoino – enquanto agentes políticos concretos – realmente lutaram pela Democracia.

Dirceu foi líder estudantil filiado ao PCB (Partido Comunista Brasileiro). Preso no Congresso da UNE em Ibiúna (1968), foi banido para o México – resultado de negociações com organizações terroristas que haviam sequestrado o Embaixador dos Estados Unidos. Do México foi para Cuba, onde participou de treinamentos de guerrilha e realizou plásticas no nariz e nos olhos. A transformação do rosto foi o disfarce utilizado para retornar clandestinamente ao Brasil. Dirceu movimentava armas, documentos e transmitia informações. Em 1975, quando não havia mais luta armada – os revolucionários estavam derrotados – ele se estabeleceu definitivamente no país. Em Cruzeiro do Oeste – município paranaense – se casa. Porém, a esposa soube da verdadeira identidade do marido somente com a Anistia.

José Genoino, por sua vez, filiou-se ao PC do B – Partido Comunista do Brasil - em 1968. Em 1970 se ofereceu para lutar na guerrilha do Araguaia – conflito deflagrado para promover a revolução comunista a partir do campo, sob a inspiração dos processos cubano e chinês. Porém, o - até então - valente guerrilheiro foi capturado, e sem tomar um tapa sequer, entregou “companheiros” que participavam do combate [1].

Atividades intensas. Mas que – diferentemente da história contada - não convergiam para a Democracia. Dirceu e Genoino pretendiam instaurar no Brasil um regime comunista de tipo cubano-soviético-chinês. Empunharam armas com o apoio de governos que julgavam os réus com o fuzil e executavam as sentenças dos Tribunais Revolucionários no paredão.

Fuzilamento de Cornelio Rojas ordenado por Che Guevara, 1959.





Depois da Anistia José Dirceu e José Genoino estiveram juntos para a fundação do PT. No domínio eleitoral o Partido dos Trabalhadores sofreu algumas derrotas até conquistar a Presidência da República com Lula, em 2002. Dirceu ocupou a Casa Civil e Genoino passou à Presidência do PT. Mas, com a denúncia do esquema de compra de votos de parlamentares - o Mensalão – ambos se afastaram dos seus postos.  

Em 2003 José Dirceu fez uma declaração significativa:

“A geração que chegou ao poder com Lula é devedora de Cuba. E me considero um brasileiro-cubano e um cubano-brasileiro” [2].  

Dirceu não havia abandonado as suas raízes. O Partido dos Trabalhadores era apenas um dos instrumentos para a consumação do antigo projeto. Um comunicado das Farc à mesa diretora do Foro de São Paulo – de 2007 – não deixa dúvidas. Os comunistas-narco-terroristas da Colômbia louvavam o PT como a salvação do movimento revolucionário Socialista-Comunista, que perdia força desde 1990 [3]. E no III Congresso nacional do partido – também em 2007 – o projeto de poder foi mais uma vez afirmado: o “Socialismo Petista”.


Este percurso mostra que Dirceu e Genoino nunca lutaram pela Democracia. Não a tinham como horizonte nos tempos do Regime Militar – eles não a estabeleceram como fundamento do programa do partido que fundaram – e a fraudaram quando subiram ao poder em pleno Estado de direito.

O “heroísmo” deles é apenas um véu colocado sobre a história. Não com o fuzil – este confronto eles perderam -, mas com as armas da cultura, a revolução que eles promoveram. Com a ocupação de espaços no sistema de ensino, com a colaboração da Intelectualidade “chic”, dos formadores de opinião e dos idiotas simpatizantes. Costuraram estrategicamente um tecido que o julgamento do mensalão, em uma parte ínfima, acabou por desfiar. O véu ainda oculta a delinquência do ex-Presidente Lula. Esconde a engrenagem da qual faz parte o PT. Encobre um esquema de poder de dimensões continentais organizado pelo Foro de São Paulo.  

XVIII Encontro do Foro de São Paulo, 2012.

O véu está desfiado. O julgamento do mensalão é uma ponta a ser puxada - para descosturá-lo e expor toda a “delinquência” ainda encoberta. Porém, agulhas já estão trabalhando. Reparando o tecido – reformando-o. Estendendo-o com a colaboração de uma Comissão encarregada de costurar uma Verdade, coser uma História – criar “heróis” - produzir uma Mentira.


Referências.

[1]. BRAGA, Bruno. “Como assim, Genoino?” [http://dershatten.blogspot.com.br/2012/10/como-assim-genoino.html]. Depoimento do Coronel Lício Augusto Macier na Câmara dos Deputados, em 2005.        

[2]. Cf. O Globo, 03 de Abril de 2003.

[3]. BRAGA, Bruno. “Um desajuste nocivo” [http://dershatten.blogspot.com.br/2012/07/um-desajuste-nocivo.html].

(*) Artigo revisto em 04 de Dezembro de 2012.


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