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Saturday, October 27, 2012

Sensibilizando a nova geração.


Bruno Braga.



A audiência pública promovida pela Comissão da Verdade na UFMG – 22 de Outubro de 2012 – foi a exposição aberta de um – entre vários outros - problemas gerados por este grupo de trabalho. Algo que pressupõe o estabelecimento da mentira revolucionária como a história oficial de um país: sob o pretexto pedagógico, adotar uma narrativa pré-fabricada como a cartilha que formará o imaginário da juventude, carregando-a com estereótipos que estimulam sentimentos e reações contra tudo o que a ela se opõe.

É constrangedor assistir a uma criança de 12 anos tomar o microfone para – com um olhar que se faz tímido ao perceber que o público a mira com atenção e expectativa – pronunciar as palavras vazias esgoeladas por todo militante rebelde, enquanto o auditório, e os próprios integrantes da Comissão, aplaudem-na com um sorriso de satisfação no rosto.

Nas próprias palavras de José Carlos Dias – integrante da Comissão da Verdade – um dos propósitos das audiências públicas é “sensibilizar” a sociedade. De fato, a investigação e a pesquisa histórica foram afastadas para que seja feita a propaganda e a publicidade da versão revolucionária da História. É a promoção da pedagogia invertida: em vez do conhecimento, a “sensibilização” - condicionar o comportamento e estimular reações. O efeito deste processo macabro foi apresentado na própria solenidade de Belo Horizonte, onde a disposição para conhecer História e rever a sua própria biografia – em um esforço de sinceridade confessional – deu lugar à histeria - a histeria gravada na proclamação dos ideais e projetos de “transformação do mundo” da antiga geração de revolucionários; no ódio que babava a juventude universitária contra um inimigo que nunca procurou ouvir; na condenação, aos prantos, da utilização de uniforme escolar, considerado um ato bárbaro de tortura; na manifestação exótica de uma Profetiza, que se dizendo emissária do divino, louvava a causa revolucionária.

É curioso que uma Psicanalista – e não um Historiador – integre a Comissão da Verdade. Parte fundamental deste ofício é conectar as experiências dos seus pacientes em uma narrativa que explique e, simultaneamente, amenize as angústias e sofrimentos deles. No caso da comissária Maria Rita Kehl, no entanto, o propósito aparece invertido: consagrar a histeria.

Em Belo Horizonte, Maria Rita recordou o amor revolucionário de Che Guevara para louvar a generosidade da juventude: segundo ela, o combustível das transformações. Maria Rita elogiava não apenas a moral invertida de “El Chancho” Guevara – a ternura que exige do revolucionário ser uma “fria máquina de matar movida pelo ódio” – e a generosidade de boa parte dos jovens presentes no auditório, cujo sentimento poderia ser sintetizado pelo título de um manifesto divulgado no local: “Nem esquecimento, nem perdão, nem reconciliação [...]”. Maria Rita também legitimava os jovens revolucionários do passado – seguidores de “El Chancho” -, as suas alucinações e despropósitos, apagava os seus crimes e atrocidades.  

O princípio da inversão orienta a re-escritura da História – para determiná-la História oficial do Brasil. A nova geração aprende uma farsa como se fosse a verdade. Ela é condicionada pelos sentimentos e pelos apelos do imaginário revolucionário: algo que Bella Dodd tristemente reconheceu ao descrever a sua experiência no Partido Comunista dos Estados Unidos - “eu fiz dos ódios deles os meus” [1]. A pedagogia da “sensibilização” proposta pela Comissão da Verdade tem o propósito de educar a nova geração: não dando o exemplo de vigor e disposição para buscar a verdade, seja ela qual for; mas, com o propósito de escondê-la – porque o projeto para a juventude é transformá-la na imagem e semelhança dos seus ídolos revolucionários, fazendo dela uma geração histérica.  


Referências.

[1]. DODD, Bella. “School of Darkness”, p. 70.

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